Eventos canônicos #043: experiências de quase-morte
Alerta de gatilho: o texto a seguir pode conter muitos termos que farão você pensar “caceta, Renan… cê era mó nerdola!”.
O ano era 2008 e eu tinha uma banda. Eu tinha uma banda e estava na faculdade, onde eu passava minhas muitas horas do dia de segunda a sexta, mas sexta depois da faculdade eu ia pra Colombo (tipo São Mateus de Curitiba, para os amigos da pauliceia). Em Colombo minha banda tocava (no bar mencionado em edição anterior), eu e meus bons amigos bebíamos na rua, jogávamos RPG, andávamos sem rumo, comíamos x-salada e ficávamos lendo gibi de bonequinho e conversando sobre bonequinho.
A influência de bonequinho era tão grande que a gente se encontrava numa praça perto da casa de um deles. Essa praça se chamava “Fortaleza da Solidão” - sim.
Simulação realista do ambiente
Num certo sábado à noite saímos da casa de um deles (não lembro qual) para ir até a praça e conversar sobre bonequinho e tomar bebida de até R$ 5 a garrafa de 5L. E você precisa muito saber que nesse momento tinha um desses amigos fazendo um colar de miçangas.
Eu preciso realmente que você imagine a cena.
Ele com as continhas passando por um fio de nylon.
Com os dedinhos e as mãos no formato que você sabe.
Também preciso que você se lembre que em 2008 ninguém falava sobre liberação da maconha.
Imaginou isso? Agora imagine uma Parati derrapando e dois vestindo casaco de alpaca e armas na mão saindo de dentro dela. Eles gritam “Mão na cabeça e não olha na minha cara”. Seis pessoas com menos de 20 anos estão nesse momento jurando que a morte vai lhes soprar no ouvido a trombeta da chegada.
Pois eles nos disseram que eram da Polícia e ninguém quis pedir confirmação, mas a gente acreditou. Até porque, segundo meu amigo que tomou um tapa, eles batiam igual polícia.
A história fica pior… Sabe o cara que tava fazendo colar? Quando o cara perguntou o que ele tinha no bolso, ele disse que era BAGULHO de fazer miçanga. Foi nessa hora que a gente imaginou que todos tomariam tiro pela primeira vez. A segunda foi quando o mesmo amigo respondeu “Profissão?” com “Músico”. A terceira foi quando o outro amigo respondeu “Qual tua idade? Você também toca na bandinha?” com “dezoito dezenove vinte dezenove”. A quarta foi quando um outro guri respondeu “só no cartão” quando perguntaram se ele tinha passagem.
Você agrediria este homem?
Talvez eu não tenha quase morrido de verdade, mas eu gosto de pensar que essa história é mais emocionante do que é, porque ela acaba sendo um resumo desses anos de banda que eu tive com meus amigos. Por várias vezes a gente só não foi assaltado atravessando a Ribeira porque o avô do nosso amigo era dono do bar e ninguém mexe com parente de dono de bar.
Eu também sempre chegava um dia depois de eles terem tretado com outras galeras e volte e meia a gente tinha que ficar trancado na casa de um deles porque tava todo mundo com medo de apanhar. Pelo menos a nossa banda era boa se divertia. E acho que nessa época eu assisti a todos os filmes de animação que a DC já tinha lançado na vida.
As histórias todas se acalmaram bastante depois que a banda acabou, um dos amigos teve filho e o outro casou. Elas pioraram bastante depois que o que teve filho separou e começou a namorar a ex do que casou (e também separou). Nessa época a gente ficava andando de carro e cantando queen. Até que a gente viu um carro capotado, parou pra ajudar e quase fomos sequestrados.
Mas até aí tudo bem…